terça-feira, 6 de novembro de 2012

A RAZÃO DA FÉ .


A RAZÃO DA FÉ

432354530_fed1ef488b_m A apologética é o ramo da teologia que trata da defesa racional da fé cristã. Sua meta principal é apresentar a razão de ser da esperança do evangelho. As Escrituras chamam a igreja à dedicação a este tipo de tarefa porque o seres humanos têm demandas intelectuais legítimas. Sem a obtenção de respostas honestas para as suas questões honestas, jamais aceitarão de todo o coração o cristianismo -pois, o coração não pode se regozijar com aquilo que a razão rejeita-, e, se o fizerem, certamente serão pessoas de estrutura espiritual frágil e cindidas ao meio em si mesmas em sua relação com Deus; deixando de lado em sua vida uma parte essencial da natureza humana, o intelecto.


A obra de conversão, contudo, é uma obra misteriosa. Com frequência a verdade sobre Deus e o universo emerge no coração do homem sem que este tenha obtido respostas diretas às suas indagações intelectuais. Muitas vezes a verdade alcança a mente por outras vias. Isso pode acontecer quando o não cristão tem um contato com a realidade transcendente através da arte, sente o encanto pela relação com um cristão de vida coerente, experimenta uma expressão concreta de amor por parte de um crente que o socorreu em tempo difícil, torna-se consciente da sua fragilidade ao ver alguém próximo subitamente morrer e tem que enfrentar a sua própria morte. A providência divina tem seus obstetras da verdade.

A verdade encontra-se reprimida no interior de cada um de nós sob a repressão de nossas paixões pecaminosas. A questão nunca é primariamente intelectual -mas sim moral-, relacionada aos impulsos pecaminosos do nosso coração que nos levam a matar Deus a fim de que não haja obstáculo na nossa consciência para a prática do que ansiamos. Por isso, a verdade naturalmente emerge de dentro do homem quando este passa por experiências que o fazem ver o que ele sempre souber ser verdadeiro. Calvino, chamava essa presença interna da verdade de "semen religionis"ou "sensus divinitatis". Faz parte da imagem e semelhança de Deus que carregamos.

As questões que você apresenta estão entre as mais presentes na mente de milhares de pessoas do mundo inteiro. A igreja não pode dizer como resposta: "cale seu intelecto orgulhoso e se renda a Jesus". Não teria espaço nesse blog para dar tratamento exaustivo a elas. Gostaria de fazer apenas algumas poucas e breves considerações.

A realidade do mal representa realmente um sério obstáculo a fé no cristianismo? Creio firmemente que não. A realidade do sofrimento humano e dos animais tão somente nos faz conjecturar sobre por que Deus para realizar o seu plano eterno escolheu justamente esse caminho. O caminho do sofrimento da sua criação e do seu único Filho.

A própria preocupação com a vida num universo justo, aponta para uma realidade onde algo funciona como referência absoluta do que é bom. Crença que só faz sentido caso vivamos num universo onda haja uma realidade infinita-pessoal por trás da vida. Alguém já disse e eu concordo: o problema do sofrimento é um problema intelectual do crente. O que não crê não tem que esperar viver num universo sem dor e morte. O acaso e as forças cegas não entendem nada sobre gente com depressão.

Podemos somar a isso, uma verdade incontroversa: não temos acesso a todos os fatos. É possível que o mal um dia experimentado sirva de plataforma para uma bênção capaz de superar a dor de todo o infortúnio vivido. Esperemos pelo fim da história.

A morte do Filho de Deus, no entanto, é o absurdo maior de que se tem notícia e que quebra o caráter de completa falta de sentido na desgraça humana. No centro da história vemos Cristo passando por uma sessão de surra, espancamento, crucificação e morte. Tudo o que foi feito contra Cristo, conforme lembra Martyn Lloyd-Jones, foi feito contra o amado do Pai.

Vamos a segunda questão. Um Deus amoroso não lança ninguém no inferno. Um Deus amoroso e justo o faz. Um Deus bondoso não vai levar ninguém arrastado pelas orelhas para o céu. O céu é um lugar, conforme lembra C.S. Lewis, onde o homem diz a Deus, "seja feita a sua vontade". O inferno é um lugar onde Deus diz ao homem, "seja feita a tua vontade".

Questão final. Acharmos que é arrogante da parte do Cristão dizer que Jesus é o único caminho é o mesmo que chamar de arrogante um médico que diz que a única forma do paciente combater sua desidratação é ingerindo líquido. Há verdades que são absolutas e que não dão margem a uma outra escolha. Tudo o que precisamos saber é se de fato, no caso específico que estamos tratando, a resposta não dá margem a outra opção.

Dizer que o cristão age com injustificável soberba ao afirmar que Cristo é o único caminho, é uma contradição. Milhares de pessoas no mundo inteiro não creem que todas as religiões são igualmente inteligentes, têm o mesmo valor e trazem os mesmos benefícios aos seres humanos. Por que não deveria ser considerado também arrogante o pensamento de que todo caminho leva a Deus?

O cristianismo se apresenta no cenário com sua beleza. Chamando o homem para uma avaliação estética. Onde encontraremos Deus mais excelente do que o que foi capaz de dar o seu único Filho como oferta pelo pecado, identificando-se ao mesmo tempo com o sofrimento de toda a raça humana?

O absurdo da cruz é a resposta de Deus para o pecado e nossas principais indagações metafísicas. A cruz é o nosso principal argumento apologético. Chave para a compreensão do caráter de Deus, da natureza humana e da solução dos nosso problemas mais sérios.

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